Os CFO’s enfrentam um novo inimigo: dados de má qualidade

Os líderes financeiros dizem que a qualidade dos dados é agora uma das maiores ameaças à sua reputação. Como as empresas dependem cada vez mais dos dados para estimular o desempenho, os riscos de relatórios incorretos devido a dados insuficientes ou incorretos tornaram-se críticos.

Melhorar a qualidade dos dados traz muitos aspetos positivos. O estudo da IBM 2021 Global C-Suite conclui que 70% dos CFO’s concordam que a implementação de processos e procedimentos de dados transversais em toda a empresa é uma prioridade para a ajudar a consolidar sistemas, cortar custos e escalar rapidamente. Muitos CEO’s estão a pedir aos CFO’s que assumam essa responsabilidade porque acreditam que estão em melhor posição para o fazer.

 

Os conselhos de administração querem cada vez mais informações de relatórios e análises sofisticadas e em tempo real. Esses insights são arriscados ou têm um uso limitado se não forem baseados em dados robustos e consistentes. Mas é um desafio difícil, pois, com muita frequência, os dados são processados de uma forma confusa e os CFO’s lutam para mantê-los “limpos” e consistentes.

Simon Bittlestone do Reino Unido, FCMA, CGMA, é o CEO da Metapraxis, empresa de tecnologia de análise financeira, fundador da iniciativa Tomorrow’s CFO e membro do conselho global da CIMA. “À medida que as organizações se tornam mais orientadas a dados, os efeitos de dados insuficientes usados nas decisões e no acompanhamento do desempenho tornam-se muito mais sérios”, disse Bittlestone.

Muitos CFO’s podem ver a “limpeza” e a organização de dados internos e externos como um fardo. Mas eles também podem vê-lo como o menor de dois males: “O CFO precisa de concordar com os insights que a empresa oferece para apoiar as decisões críticas de negócios, para que eles também possam ser responsáveis por eles”, disse Diarmuid Cotter, ACMA, CGMA, que tem 20 anos de experiência sénior em finanças, mais recentemente como CFO da divisão de vendas digitais da IBM na Europa. “Mas, mais importante que isso, esta questão da responsabilidade pelos dados oferece uma oportunidade significativa para transformar a função de CFO e a função de finanças. Com uma base sólida de dados de qualidade baseados na cloud, os CFO’s podem transformar a função financeira automatizando áreas como contas a receber, contas a pagar, reconciliações e relatórios, libertando os recursos para atividades que geram mais valor”.

 

Testes à qualidade dos dados

Kunwar Chadha da Irlanda, FCMA, CGMA, chefe da EMEA FP&A da Fitbit, afiliada da Google, disse que os dados desatualizados são um problema típico de qualidade. “Por exemplo, em numa função anterior que tive, quando estávamos a levantar fundos, os investidores pediram estimativas de receita”, disse ele. “Quando examinamos em detalhe os nossos dados do funil de vendas encontramos vários clientes potenciais antigos, e, como detetámos essa situação, tivemos que fazer a “limpeza” dos dados. Como as estimativas de receita eram visíveis para as principais partes interessadas internas e externas, houve uma sobreposição natural onde o departamento financeiro colaborou com as vendas para garantir a precisão dos dados de pipeline. Na Europa, o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) – que traz riscos financeiros – é outra razão para o CFO colaborar funcionalmente na limpeza dos dados.”

Quase 70% das organizações tomaram decisões de negócios importantes com base em dados financeiros imprecisos, de acordo com uma pesquisa global da empresa de software BlackLine. Além disso, 55% dos líderes financeiros consideram que não conseguem identificar erros financeiros antes de relatar os resultados. Não é de admirar que existam tantas histórias conhecidas sobre os efeitos nocivos de relatórios incorretos.

Mas os dados de fora do departamento financeiro e da organização podem ser ainda menos confiáveis.

Rachel Grimes, CPA (Austrália), baseada em Sydney, ex-presidente da Federação Internacional de Contabilistas, disse que, juntamente com a cybersecurity, a falta de dados é agora o maior problema que pode “destruir” conselhos de administração e gestão. Essa pressão aumentou ainda mais durante a pandemia de COVID-19. “Os CFO’s têm sofrido uma pressão acrescida de procura de dados por parte da administração, do mercado e dos reguladores”, disse. “Em alguns casos, os reguladores recolheram os dados para eles próprios os interpretarem, o que pode levar a conclusões erradas. Alguns reguladores estão a publicar dados antes da altura normal para os publicar, criando potenciais problemas de divulgação de mercado. Neste ambiente, a precisão tornou-se fundamental.”

Como enfrentar este mal

A menos que seja o CFO de uma start-up com investimento ilimitado, a existência de dados perfeitos numa empresa simplesmente não existe. Empresas de todos os tamanhos estão a lutar com uma miríade de sistemas que não se comunicam claramente entre si, o que torna a gestão de dados um sério desafio.

Garantir a qualidade exige um grande esforço para gerir, validar, reconciliar dados e corrigir erros – mesmo antes de começar a juntá-los às informações externas.

“Numa função anterior, tínhamos uma oferta de cloud híbrida que possibilitou a recolha, organização e análise de dados de uma forma mais fácil. Combinar isso com ferramentas analíticas simplificou a consolidação e “limpeza” de dados, comparando com a forma antiga de o fazer, em Excel. Os sistemas de business intelligence prontos a usar podem fazer quase o mesmo.”, disse Cotter.

Para lidar com estas ferramentas, o CFO pode não precisar de novas competências, mas deve compreender a nova combinação de skills que precisa formar ou trazer para a equipa.

“O ideal é um analista de dados que também tenha um forte conhecimento do negócio”, disse Cotter. “A necessidade de identificar pessoas com essas competências é urgente e um grande desafio, devido à falta desse talento disponível.”

Os CFO’s estão a tentar construir a combinação ideal de experiência e ferramentas para formar equipas de gestão de dados com uma estrutura para apoiar na qualidade. Isto requer um entendimento dos modelos de governace, como por exemplo como implementar uma rede de gestores de dados na organização, disse John Pearson, ACMA, CGMA, que trabalhou 16 anos em risco, assurance e gestão de dados em IT. “A compreensão dessas estruturas permitirá ao CFO formar equipas e orçamentos adequados para entregar melhorias de controlo e retornos de eficiência, sem a necessidade de um conhecimento técnico mais aprofundado.”

Um benefício e desafio ao assumir a função de qualidade de dados é que as equipas têm a oportunidade de expandir as suas competências tecnológicas, analíticas e de apresentação. Se conseguirem entender todos esses aspetos da forma certa, isso permitirá que os CFOs conduzam os seus negócios com confiança para um território novo e estimulante.

Adaptado de “CFOs step up to face their new enemy: Poor data”, de Tim Cooper, 14 de abril de 2021 em Finance Management.

https://www.fm-magazine.com/news/2021/apr/data-quality-stresses-for-finance.html?utm_source=mnl:adv&utm_medium=email&utm_campaign=15Apr2021&SubscriberID=287928354&SendID=357326



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