ESG: As Implicações nos Relatórios Financeiros

Numa pesquisa da KPMG com 3.300 profissionais financeiros, mais da metade dos entrevistados indicou que as divulgações financeiras relacionadas com as alterações climáticas foram uma oportunidade para demonstrar a sua vantagem ambiental, social e de governance (ESG) aos funcionários e aos investidores, enquanto se distanciam dos concorrentes. No entanto, apenas 32% viram essas divulgações como um exercício de compliance.

No entanto, ainda no ano passado, uma pesquisa global da KPMG mostrou que apenas 40% das empresas mencionaram as alterações climáticas nas divulgações financeiras, com apenas 1 em cada 5 reportando em linha com os padrões da Financial Stability Board’s Task Force on Climate-related Financial Disclosure (TCFD).

Porquê essa lacuna? As empresas lutam para deixar de responder “porque” é que vão incorporar o ESG na estratégia para “como” fazer e “o que” reportar ao contar sua história.

Por exemplo, outra pesquisa da KPMG, com líderes em tecnologia, descobriu que 82% queriam garantir ganhos de sustentabilidade, mas mais de metade disse não ter uma estratégia de descarbonização em curso.

Passar da aspiração à realidade explica apenas parte do desafio. Para efeitos de relatórios e, em particular, questões de ESG no âmbito dos relatórios financeiros, a realidade é complexa. Os passivos podem não ser reconhecidos, os ativos podem não ser desreconhecidos e as estimativas não podem ser ajustadas até que a empresa tenha em conta os critérios das normas relevantes. Novos requisitos de divulgação podem alterar o nível de transparência sobre a estratégia de uma empresa e as suas ações relacionadas com os fatores ambientais. As mudanças fundamentais serão muito desafiantes, e os reguladores e compositores de normas globais ainda estão a rever as novas regras de divulgação.

A Estratégia da Espera

A estratégia que algumas organizações podem seguir é esperar que os reguladores determinem as divulgações. A União Europeia, por exemplo, propôs a Diretiva relativa a Relatórios de Sustentabilidade Corporativa para colocar o reporte relacionado com as informações de sustentabilidade ao mesmo nível das informações financeiras padrão. A Securities and Exchange Commission, no entretanto, está a fazer um esforço histórico para exigir que as empresas públicas produzam divulgações relacionadas com o clima direcionadas para os investidores.

Mas acreditamos que essa abordagem de esperar para ver deve ser substituída por uma mentalidade de estar preparado, por três razões:

  • – Os investidores podem ser o ponta de lança quando se trata de exigir ações sobre as alterações climáticas. Os fatores ambientais estão a tornar-se cada vez mais urgentes para uma diversidade de partes interessadas, incluindo credores, fornecedores e clientes.
  • – As empresas precisam preparar-se agora – antes das regulamentações finais – para que possam contar a sua própria história em vez de outras pessoas a contarem-na.
  • – O envolvimento com o ESG torna os negócios melhores porque tem o poder de os transformar. Uma estratégia bem desenvolvida que identifica riscos e oportunidades e está incorporada nas operações pode mitigar riscos, construir a confiança das partes interessadas e fornecer vantagens competitivas.

O recente manual “Risco climático nas demonstrações financeiras” da KPMG enfoca o “E” em ESG, delineando as principais perguntas que os CFOs devem fazer para (1) perceber o panorama dos riscos climáticos (2) analisar os potenciais impactos financeiros das ações de descarbonização da organização e (3) ponderar quais as informações a divulgar e como divulgá-las.

Pontos de Pressão

Existem três tipos de riscos climáticos: físicos, regulatórios e relacionados com a transição. Os riscos físicos incluem os efeitos das alterações climáticas nas inundações, furacões e outras mudanças no padrão climático que ameaçam a infraestrutura da organização e as cadeias de abastecimento. Os riscos regulatórios incluem estar sujeito a novas políticas que limitam as oportunidades de rendimentos ou aumentam a exposição a litígios. Finalmente, os riscos relacionados com a transição refletem os potenciais desafios durante a mudança para uma economia de baixo carbono, incluindo a mudança nas preferências do consumidor, ativos irrecuperáveis e custos de capital.

Embora todas as empresas devam avaliar esses três riscos, o TCFD destacou cinco setores como sendo de alto risco: finanças; energia; transporte; materiais e edifícios; e produtos agrícolas, alimentares e florestais.

Como ponto de partida, os CFOs de todos as indústrias e setores devem esforçar-se para obter uma visão honesta dos pontos de pressão multidimensionais enfrentados pela sua organização. Além das perguntas típicas sobre o sentimento do investidor, os CFOs devem perguntar:

  • – A empresa será afetada por planos nacionais ou jurisdicionais para reduzir as emissões? O Net Zero Readiness Index da KPMG detalha a capacidade de um país atingir “net-zero” até 2050, incluindo uma revisão das suas políticas e mandatos legais. A Noruega, o Reino Unido e a Suécia são os melhores classificados e nove países têm compromissos obrigatórios de “net-zero”. Dez países estabeleceram metas de “net-zero”, sendo responsáveis por um total de 51% das emissões globais.
  • – Qual é a exposição da cadeia de abastecimento e da base de clientes mais ampla? Cada parte, potencialmente, pressiona os seus fornecedores para reduzir as emissões. Os CFOs também devem questionar se os principais clientes estão a fazer perguntas sobre os planos de redução de emissões.

Considerando Todos os Impactos

Depois de compreender o cenário externo e formular a estratégia organizacional, os CFOs devem explorar e planear questões contabilísticas abrangentes. Por exemplo, considerar fatores ambientais ao testar a imparidade de uma variedade de ativos não financeiros é cada vez mais essencial. Olhando para a estratégia de reporte, os CFOs devem perguntar se as divulgações atuais respondem às crescentes exigências, incluindo as preocupações da equipa do SEC sobre a robustez das divulgações fora das demonstrações financeiras e se a estratégia de descarbonização da empresa afeta os relatórios individuais.

Essas avaliações podem não alterar significativamente os relatórios financeiros hoje, mas a definição de processos e o delineamento de expectativas para a comissão de divulgação de demonstrações financeiras permitirão uma maior sofisticação dos relatórios no futuro. Quer sejam novas formas de baixo custo de captar capital, oportunidades atrativas de fusões e aquisições ou benefícios normalmente fora do âmbito de um CFO – reputação da marca, angariação de clientes e acesso a talentos – as empresas têm o potencial de obter uma vantagem ESG.

 

Adaptado de: “ESG: The Financial Reporting Implications”, por Scott Flynn, vice-presidente de auditoria da KPMG, e Maura Hodge, líder de auditoria na KPMG IMPACT, publicado em CFO News em 17 de novembro de 2021.



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