Quais os desafios que o COP26 nos trouxe ao nível da estratégia corporativa relativamente ao ESG?

A estratégia e o reporting sobre questões ambientais, sociais e de governance (ESG) certamente evoluirão no rescaldo da cimeira sobre o clima do COP26, realizada no início deste mês na Escócia.

Para muitos contabilistas, a notícia mais importante que resultou da cimeira foi o anúncio da IFRS Foundation de que foi criado um novo International Sustainability Standards Board (ISSB). Vai ser desenvolvida “uma base global abrangente de normas de divulgação da sustentabilidade de elevada qualidade para satisfazer as necessidades de informação dos investidores”, de acordo com a IFRS Foundation.

Mais de três quartos (79%) dos investidores acreditam que os riscos ESG são um fator importante na tomada de decisões de investimento, de acordo com um inquérito recente da PwC, mas apenas um terço dos entrevistados considera que a qualidade dos relatórios é suficiente. Espera-se que a satisfação com os relatórios ESG melhore em resultado das normas definidas pelo ISSB.

“O principal objetivo era colocar os relatórios de sustentabilidade sob o mesmo teto dos relatórios financeiros”, disse Charles Tilley, OBE, FCMA, CGMA, membro do conselho de administração e consultor sénior, Value Reporting Foundation, durante um recente webcast do AICPA & CIMA, o centro para Audit Quality e Value Reporting Foundation. O webcast, “COP26 Debrief and a Look Ahead for ESG Standards“, debateu o ponto de situação da orientação global em matéria de sustentabilidade, as novas considerações sobre os objetivos climáticos, as regras da Securities and Exchange Commission dos EUA e as perspetivas para os controlos internos e o assurance.

A IFRS Foundation vai consolidar o Climate Disclosure Standards Board e a Value Reporting Foundation, que inclui o Integrated Reporting Framework e os padrões do Sustainability Accounting Standards Board. Um grupo de trabalho da IFRS Foundation também publicou “protótipos” de requisitos de divulgação climáticos e gerais para análise por parte do ISSB.

No passado, existia uma “sopa de letras” virtual de padrões e estruturas ESG, de acordo com os participantes do webcast. Isso pode dificultar a perceção relativamente às regras que uma empresa está a seguir. O grande número de estruturas de relatórios ESG atualmente em uso causou confusão e impediu a comparabilidade, disseram os participantes do webcast. “A ideia [do ISSB] é agora consolidar os padrões das organizações existentes numa orientação coesa”, disse Janine Guillot, CEO da Value Reporting Foundation.

Compromissos de entendimento

Num outro desenvolvimento significativo na COP26, a Glasgow Financial Alliance for Net Zero anunciou que tinha angariado mais de US$ 130 triliões em capital privado, compromissos do setor financeiro a serem usados ​​para fazer as mudanças económicas necessárias para a transição para uma economia de emissão “net-zero” de gases de efeito estufa nas próximas três décadas. Uma em cada três das maiores empresas nos países do G20 têm agora uma meta de “net-zero“, observou Veronica Poole, líder global de IFRS e de reporte corporativo da Deloitte, responsável de contabilidade e reporte corporativo da NSE.

“Como as empresas estabelecem tais metas, os profissionais financeiros terão que trabalhar com o CEO e a equipa regulatória para perceber os compromissos que foram assumidos, seja pela empresa seja pela indústria, – disse Nadja Picard, sócia, líder global de reporte, da PwC Alemanha – para que possam ser tidos em consideração aquando da preparação das demonstrações financeiras e da resposta às perguntas dos utilizadores do reporte anual.”

“Os auditores precisam de ter em consideração esses compromissos e estratégias quando estão a auditar questões de julgamento materiais e as divulgações relacionadas”, disse Poole. Os impactos podem ser significativos porque as empresas terão que ajustar os seus modelos de negócio, desenvolver planos de implementação credíveis ​​e executá-los.

Envolvimento do conselho de administração em questões ESG

As partes interessadas estão a questionar sobre os relatórios ESG, o que os tornou um assunto principal da agenda dos conselhos de administração, de acordo com Kimberly Ellison-Taylor, CPA, CGMA, CEO da KET Solutions, outro participante do webcast. Os membros do conselho de administração “estão a lutar por conhecimento”, disse Ellison-Taylor, membro de vários conselhos de administração e ex-presidente do American Institute of CPAs e da Association of Certified Professional Accountants. Kimberly referiu que as perguntas que os conselhos de administração podem fazer às várias equipas numa organização incluem:

  • – Como é que são escolhidas as métricas ESG.
  • – Se a empresa tem pessoas, processos e sistemas para preparar os relatórios ESG.
  • – Qual o nível de assurance que está a ser utilizado e qual a razão.
  • – Como é que os relatórios ESG da empresa se comparam com outros do setor.
  • – Se as estratégias foram revistas para garantir que os relatórios ESG são integrados em toda a organização, e não são apenas uma sobreposição de dados existentes.
  • – Como é que a empresa rastreia os riscos nessa área, incluindo jurídicos, financeiros, estratégicos, saúde e segurança, diversidade e inclusão, entre outros.

“Os conselhos de administração não querem interferir, mas nós faremos as perguntas”, disse. “Queremos saber como é que a empresa se está a preparar para o que pode acontecer a seguir.”

 

Adaptado de: “What’s ahead for ESG strategy and reporting after COP26?”, por Anita Dennis, escritora independente sediada nos Estados Unidos, publicado em FM magazine em 10 de dezembro de 2021.



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