Refletir sobre os negócios na pós-pandemia

Para ultrapassar a crise do COVID-19, as empresas devem se preocupar em ser ágeis, tecnológicas, inovadoras, e em ter uma liderança resiliente e visionária.

A pandemia COVID-19 está a desencadear uma crise económica que pode levar milhões de pessoas à pobreza em todo o mundo e aumentar ainda mais a desigualdade de recursos para a humanidade. Isso terá um impacto adverso no desempenho económico mundial. Muitos países enfrentam uma recessão profunda causada pelo fecho de empresas, redução significativa da produção e das operações, o desaparecimento de empregos no setor dos serviços e o aumento significativo no preço dos alimentos e outros produtos básicos.

 

Segundo o Fórum Económico Mundial, de entre os dez maiores riscos em 2021, quer em termos de probabilidade quer em termos de impacto, estão as “crises nos meios de subsistência”, que se não forem tratadas dificultarão o progresso global para a prosperidade de longo prazo.

As pessoas perderam os empregos e rendimentos. A pandemia pôs em questão muitas das nossas formas de fazer negócios e as abordagens por departamentos e isoladas dentro das organizações. Na pós-pandemia, o caminho a seguir para os negócios é o foco em alguns fundamentos importantes, a saber, agilidade, tecnologia, inovação e liderança resiliente e visionária.

 

Por questões de pura sobrevivência, a capacidade de ser ágil e flexível no curto prazo (de dois a cinco anos) é crítica para as empresas conseguirem navegar nesses tempos turbulentos.

 

O impacto da tecnologia

A tecnologia terá o maior impacto sobre os negócios a curto prazo, e a sobrevivência dos negócios dependerá da rapidez com que os negócios adotem a tecnologia para conduzir as suas próprias operações e também conectar-se com outros para construir possíveis sinergias. A colaboração será a chave.

O mundo dos connected devices – a internet of things -, cloud computing e inteligência artificial, incluindo a machine learning, fornecerá o necessário para as empresas e para a sua sobrevivência. No entanto, sabemos que a tecnologia vem com seus prós e contras: a segurança cibernética é um problema que todas as empresas devem estar cientes e abordar assim que começam a adotar a tecnologia. Além da necessidade de utilizar o conhecimento técnico de profissionais de tecnologia, as empresas precisam de formar os colaboradores e consciencializa-los sobre os riscos de segurança cibernética. Descurar isso pode causar danos e custos muito significativos para as empresas.

 

Muito intimamente ligada à tecnologia está, claro, a inovação e a adaptação. As empresas que não conseguirem inovar, tornar-se-ão dinossauros em vias de extinção. Flexibilidade e adaptação exigem reações imediatas, o que significa antecipar a mudança em vez de responder a ela. Precisamos de ser disruptivos e não seguidores. Dado o rápido ritmo de mudança, as empresas devem estar sempre à frente do jogo. Adaptação e inovação vão além da tecnologia. Eles exigem “uma mente aberta” e a aceitação de uma mudança de mentalidade.

 

As empresas precisam de se focar na abertura e na confiança; os relacionamentos devem ser construídos com base na confiança e não na autoridade. Por exemplo, a pandemia revelou os impactos da rigidez existente do micro-managing, do trabalho de oito horas e das reuniões físicas, que foram substituídas quase do dia para a noite por reuniões no Zoom e horários flexíveis que equilibraram o trabalho e a vida pessoal num nível completamente diferente.

 

Para as empresas que se depararam com redução das receitas, aumento da pressão de caixa e dos ativos líquidos e de maior volatilidade do mercado, a resiliência é um critério-chave para garantir a sobrevivência e permanecer sustentável no curto, médio e longo prazo. Os profissionais, principalmente os financeiros, têm um papel significativo a desempenhar nestes tempos desafiantes. As empresas e as organizações não terão escolha a não ser confiar na perspicácia, integridade e competência dos seus financeiros, liderando e conduzindo estrategicamente os negócios nestes tempos turbulentos.

 

A transformação digital e o aumento do uso das aplicações nos dispositivos móveis, vieram para ficar. À medida que as empresas se ajustavam da noite para o dia durante os lockdowns para conseguir operar os seus sistemas remotamente, aqueles que já tinham sua contabilidade e operação baseada na cloud e estruturas digitais implementadas e testadas estavam em vantagem e podiam continuar as suas operações sem interrupções.

 

Modelos de negócios emergentes

Por outro lado, vemos o nascimento de novas oportunidades de negócios. Novos e inovadores modelos de negócios continuam a surgir: por exemplo, os restaurantes desenvolveram novas redes de entrega e sistemas de logística online, mesmo em países em desenvolvimento.

 

Uma das transformações mais significativas verificou-se na educação, nos diferentes níveis. As universidades começaram a lecionar cursos online abertos em massa o que proporcionou aos alunos os mecanismos e sistemas necessários para continuar com os seus estudos sem obstáculos, garantindo ao mesmo tempo que a qualidade se mantinha. Os padrões foram mantidos e os sistemas foram ajustados para atender às necessidades dos alunos.

 

A necessidade de interações pessoais

A conectividade online tende a funcionar bem com redes e relacionamentos já previamente estabelecidos e existentes. Construir novas relações de trabalho, recrutar novos colaboradores e integrá-los na cultura, ao ambiente do escritório e à nova “família de trabalho” terá desafios. Visto que as relações humanas são construídas com o tempo e as interações pessoais são necessárias para desenvolver a camaradagem entre os colegas de trabalho, os ambientes de trabalho híbridos precisarão de se tornar parte da nova realidade de trabalho.

 

Isso também deu origem a mudanças consideráveis no imobiliário, uma vez que fez aumentar o número de postos de trabalho não dedicados e não atribuídos. Por outro lado, houve um esforço consciente para remodelar escritórios para cumprir com os padrões de distanciamento social e para acomodar o trabalho por turnos nos escritórios.

 

Do ponto de vista humano, vimos como competências chave colaboradores com competências de comunicação eficaz, inteligência emocional, empatia, agilidade, criatividade e inovação. Pessoas com essas competências fizeram a diferença nas suas empresas quando operando virtualmente. Para liderar com gentileza e empatia, focando no estado mental dos seus colaboradores, defendendo a mudança num contexto remoto, integrando novos colaboradores na organização e formando jovens profissionais, e ao mesmo tempo mantendo os colaboradores motivados num cenário desafiador, é mesmo necessário ter estes soft skills, competências essas que permanecerão essenciais à medida que as empresas emergirem da pandemia e continuarem a traçar um novo rumo.

 

Adaptado de Rethinking business: Tactical lessons for the post-pandemic era, na Financial Management Magazine, 1 de junho de 2021, por Melanie Kanaka, FCMA, CGMA



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