Os líderes financeiros fazem mais do que cortar custos para combater os preços elevados

Quando os custos das matérias primas atingem máximos históricos e têm impacto na rentabilidade, uma reação instintiva comum é cortar custos ou repassar custos aos clientes. Mas essa pode não ser a melhor solução a longo prazo.

Os líderes financeiros dizem que estão a renegociar as condições com os fornecedores, a diversificar o abastecimento, a concentrarem-se em acrescentar valor aos produtos e a expandirem os seus mercados para resistirem a este ambiente de elevada inflação. Estão também a ser introduzidas iniciativas de cortes de custos, mas fazem parte de planos estratégicos a longo prazo e não de cortes ad hoc em resposta às oscilações nos preços.

Uma crise generalizada de mão de obra devido ao COVID-19 e o aumento dos preços das matérias primas e do petróleo têm vindo a aumentar os custos no último ano. No recente 2022 CEO Outlook Survey da EY, 87% dos 2.000 CEOs inquiridos disseram estar a assistir a “um aumento significativo” dos preços, e a guerra na Ucrânia pode levar a mais aumentos.

Os preços de envio de contentores de 40 pés permanecem mais de seis vezes superiores às taxas pré-pandemia, de acordo com o Freightos Baltic Index, que acompanha os preços globais de transporte marítimo. A crise na Ucrânia está a perturbar o fornecimento de petróleo e, com os países a evitarem o petróleo russo, a procura de outras fontes de petróleo continuará a disparar. No início deste mês, o Brent ultrapassou a marca de 100 dólares por barril pela primeira vez desde 2014.

Andre Khor, FCMA, CGMA, CFO da Chandra Asri – a maior empresa petroquímica da Indonésia com uma capitalização de mercado superior a 10 mil milhões de dólares – disse que a empresa fez uma análise crítica da sua estrutura de custos antes de repassar o aumento dos custos para os seus clientes.

A Chandra Asri fabrica produtos petroquímicos, como o polietileno e o polipropileno, e fornece aos fabricantes nos setores da energia, automóvel, construção e bens de consumo. Consciente dos impactos do seu aumento de preços em toda a cadeia de abastecimento, Khor disse que a empresa absorve o aumento de preços tanto quanto possível antes de o repassar, especialmente para os seus clientes de longo prazo.

O balanço saudável da empresa conseguiu suportar o impacto dos aumentos repentinos de preços, já que é difícil alterar as condições contratuais no curto prazo, disse.

Renegociar as condições

Mas para gerir o atual ambiente inflacionário que pode continuar ao longo deste ano, a empresa está a renegociar as condições contratuais com os clientes.

“Adotamos uma estratégia de preços holística, em que não existe uma solução única para todos os clientes”, disse Khor, acrescentando que estas negociações incluem o alargamento do prazo de pagamento para ajudar a empresa a manter uma boa relação com clientes leais. O que costumava ser um prazo de pagamento de duas semanas foi agora estendido para dois meses para clientes selecionados.

“Somos cautelosos quanto a qualquer aumento de preços porque crescemos com os nossos clientes”, disse. “A equipa financeira envolve-se diariamente com a equipa de vendas para encontrar situações vantajosas para nós e para os nossos clientes.”

Khor disse que a empresa também deve estar consciente do que os seus concorrentes estão a fazer e equilibrar as necessidades e obrigações da empresa para com investidores e bancos, mantendo boas relações com os clientes.

Diversificar o abastecimento

Valerie Lee, ACMA, CGMA, vice-presidente sénior de Finanças da divisão de mobiliário do Grupo Fung, teve que gerir o enorme aumento dos custos de transporte das fábricas das empresas na Ásia para os EUA. Isto para além de uma tarifa de 25% dos EUA que a empresa tem de pagar se efetuar o abastecimento na China.

Lee, que está sediada na Califórnia e é responsável pelo mercado norte-americano, disse que a empresa beneficiou da mudança para o trabalho remoto desde o início da pandemia, em que cadeiras de escritório, cadeiras de jogo e sofás se tornaram os artigos mais vendidos. No ano passado, os preços de venda a retalho de mobiliário e mobiliário doméstico aumentaram em 8% a 10% devido à crise global do transporte marítimo e à escassez de materiais, referiu.

“Os preços das matérias primas vão continuar a subir, mas acho que a maior questão ainda é o transporte de mercadorias”, disse. “Com os preços mais elevados das matérias primas, há muito que podemos fazer – podemos trabalhar com I&D para reprojetar e recalibrar o nosso portfólio de produtos e expandir o abastecimento em diferentes países”, acrescentou.

“Acho que diversificar a nossa base de abastecimento é um elemento muito importante para lidar com os aumentos de preços de matéria prima e mão de obra”, acrescentou.

Acrescentar valor aos produtos

O ambiente de elevada inflação também contribuiu para Lee se focar no valor que trazem os produtos da sua empresa. Isso inclui melhorar o design do produto e o controlo de qualidade e introduzir inovações para justificar o aumento dos preços.

Embora a sua divisão venda mobiliário a retalhistas em vez de consumidores finais, tem existido uma maior ênfase na experiência do cliente. A sua equipa trabalha com retalhistas para expandir plataformas e canais de venda. A empresa também começou a utilizar a tecnologia de imagens geradas por computador para criar modelos 3D dos seus produtos, investiu numa central de atendimento ao cliente para ajudar os clientes com dificuldade na montagem do mobiliário, e prestou mais atenção às avaliações e feedback online do cliente final.

Tudo isto ajudou a posicionar melhor as marcas da empresa, e os consumidores finais estão dispostos a pagar o valor adicional pelos seus produtos, disse.

Preparar para a inflação futura

Num blogue no mês passado, os economistas do Banco Mundial escreveram que a inflação é atualmente um fenómeno global, com 15 das 34 economias desenvolvidas a reportarem taxas de inflação superiores a 5% até dezembro de 2021. Uma tendência semelhante é observada em 78 das 109 economias emergentes e em desenvolvimento.

A IHS Markit previu, em fevereiro, que a inflação continuaria elevada nos meses seguintes, mas poderia diminuir se a procura arrefecesse e as questões da cadeia de abastecimento fossem resolvidas até ao final do ano. Mas a previsão da IHS Markit foi publicada antes do início da invasão da Ucrânia pela Rússia, o que causou mais caos e os especialistas dizem que provavelmente criará mais desafios na cadeia de abastecimento e condições inflacionistas.

Olhando para o futuro, Khor disse que se concentrará na criação de valor para os clientes e na expansão do mercado de Chandra Asri. Com os preços do petróleo elevados, ainda acha que tentar trancar os preços das matérias primas não é a melhor estratégia para a empresa porque é simplesmente muito difícil prever para onde vão os preços do petróleo. Em vez disso, concentrar-se-á em satisfazer as necessidades dos seus clientes e sustentar a resiliência financeira da empresa e a excelência operacional.

Lee mostrou sentimentos semelhantes. O seu foco será na melhoria da margem através da criação de melhores produtos e da expansão do negócio em vez de introduzir cortes de custos. A empresa também pretende introduzir novas categorias de produtos e entrar em novos mercados.

Sublinhou a importância de um dashboard com dados em tempo real para se manter atualizada sobre o desempenho do negócio em vez de se basear em dados históricos. A sua equipa controla indicadores-chave, tais como encomendas futuras para cada categoria de produto, para que a equipa financeira possa ajudar a equipa de vendas a melhorar o preço de cada artigo.

 

Adaptado de: “Finance leaders do more than cost cuts to battle elevated input prices“, por Alexis See Tho, editora associada, publicado em FM magazine em 10 de março de 2022.



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